24 julho 2006

Segredos

"meu amor, porque me prendes?
meu amor, tu não entendes?
eu nasci p’ra ser gaivota.
meu amor, não desesperes
meu amor, quando me queres
fico sem rumo e sem rota.

meu amor, eu tenho medo
de te contar o segredo
que trago dentro de mim
sou como as ondas do mar
ninguém as sabe agarrar.
meu amor, eu sou assim.

fui amada, fui negada
fugi e fui encontrada
sou um grito de revolta
mesmo assim, porque te prendes?,
foge de mim, não entendes?
eu nasci para ser gaivota."


(Paulo Valentim)
Kátia Guerreiro



Que coisa universal em mim, esta! Poderia ser só a cercar uma pequenina parte, essa mesma parte que nos enche e esvazia tal qual vem e vai. Mas é como rasgar uma manga num dia frio, entra pelo braço e gela todo o corpo. Talvez não tenhamos partes e essas sejam portas e aberturas. Afinal não importa o motivo ou "manga", sei e sinto o assalto. Vem sempre tão abruptamente que não deixa arranjar-lhe lugar. Alastra-se a sitios cá dentro que não seriam para tal. E fico a ver os promontórios deixarem cair fragmentos. Esses promontórios envernizados, que não poderiam ter esta linha tão ténue de ligação com as mangas. Pequenina, já tão pequenina!

23 julho 2006

atitude

difícil isto da consciência real.
querer a concordância entre essa mesma, e a falta de vontade/necessidade emocional de atitude.

vou á procura do antítodo para o bloqueio. E libertar a consciência, para não ser prisioneira dela...

20 julho 2006

"But we'll never gonna survive, unless we get a litle on crazy"

Devia dar mais atenção ao que a Lena escreve "o Amor Absoluto não depende nem do tempo nem do espaço. porque o amor não depende. o amor É ou não é", que ela já é crescida e deve saber mais que eu. Então se não reduziu o amor absoluto ao amor-apaixonado, e se se puder estender ao amor universal, aquele em que cabe todos os tipos de amor, acertou em cheio.
A liberdade é uma treta! Querer ser fácil e viver com as coisas fáceis só por um bocadinho, para nos evadirmos e nos descançarmos, e temos logo uns quantos adjectivos de ambivalência para ouvir. É a eterna prepotência das pessoas a manifestar-se. Sempre aquela necessidade de nos entenderem no nosso mais intímo a cada momento. As pessoas estabelecem-se entre si em partes, e não vejo ser possível conseguirmos chegar a todas essas pessoas nesses cada momento. E se as relações se estabelecem em partes, isso traz inevitavelmente um tempo em partes.
São chatas, as pessoas!

Há por aqui nesta caixa de posts um rasculho, que nunca me deixa esquecer por muito tempo o quanto eu gostaria de ser só escorpião. Deve ser este sagitário que por vezes quer subir e não sabe bem onde se instalar.
Um dia achar a tabacaria algo aborrecido, e noutro vigiá-la e querer discuti-la. Vou mesmo discuti-la, um dia. Analisá-la e po-la a nu, na minha vida, na vida de outrém e na vida universal. Só assim poderá deixar de causar aquele mal ocasional. E pode ser que nesse dia a comunicação seja amiga e as almas se transformem em espelho.
Há sempre um dia em que tudo retorna. Estamos sempre a passar pelos mesmos sítios, com mais ou menos bagagem. E se agora estou á volta precisamente do mesmo que tratava o rascunho, é porque ficou cá na cabeça pronto a ser despertado.

Nós a sós, e o espanto.
Há um caminho que fazemos sozinhos até ao fim da vida, o cá dentro de nós que se vai enchendo de coisas e pessoas e lugares e momentos e pensamentos e experiencia e construção. E pensam os outros, que são prolongamentos de nós. A paciência de impedir tal convicção é nula, porque as palavras ás vezes também cansam.
Esta incapacidade de me saber dar a possuir, e a necessidade que os outros têm que isso aconteça. Quase quedam quando confrontam a minha liberdade. Nada de extraordinário nem metafisico, no mais simples. Sabemos lá nós o que fica connosco, e ainda não acredito que isto seja egoismo. Tanto que já ficou, que nem me apercebi que estava a entrar, e tanto que já passou e estava construido.
E as pessoas de natureza-base-comum com a minha, que quase sempre me cansam. A falta de uma nancial de possibilidades de modo de estar, que nunca altera Como somos.

Se um dia cair nesse abismo de me precisar prolongar alem-mim para ter o proprio pensamento e saber descodificar sentimentos , deixarei de saber ser.
Anda tudo numa onda meia á deriva, á procura do Amor maior á força, sem saberem realmente quem são. Que susto, a rapidez tonta com que oscilam.

É preciso haver em quem acreditamos. Que não nos estranha nos diferentes estados. A imperfeição que é dita, e que por isso tende para o estado de Verdade. E nada perturba onde coexiste verdade. É também preciso aqueles relacionares simples, sem a necessidade de um permanente estado de atenção.


queria tanto estar a dormir

08 julho 2006

Fonte

"Eu - pensou o principezinho -, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direcção de uma fonte..."
A. de Saint-Exupéry

02 julho 2006

Não pára em lugar algum

De manhã tão cedo, um correr lado a lado com a orla, que levou á praia deserta. Por ser tão cedo. Ouvia-se ali sim, a areia e o mar. Entrei como se fosse sal e decerto que as cores que substituem a roupa, cresceram. Fui até onde nos é possivel ir sozinhos, sem nos assustarmos. No olhar só o vasto, sem um unico algo pálpavel. Não veio o susto, e regressei a pé firme e seguro.

Á noite, as lendas. Há filmes perigosos, que nos traem. Á vista uma história bonita, louca para muitos, mas nada disso interessa, no fim não é a história que fica - para quem está atento e se sente. É aquele que é incapaz de ficar ligado aos laços em forma fisíca, e ver nele a necessidade de uma permanente fuga e liberdade. Não fuga de si, que isso muito pouco provoca. É a fuga para poder Ser no seu mais pequeno espaço e infinito: ele mesmo. Poder transbordar-se, ser o que não é porque isso também ajuda ao esboço de nós,
e principalmente percorrer os caminhos, somente para saber não serem nossos nem para nós, como se isso fosse necessário á certeza. E é sempre, porque a consciência trai-nos com a imaginação. Os simbolismos, a ligação com o índio, o urso olhos nos olhos e cá dentro, o transporte num cavalo, e sempre partir com o unico objectivo de saber e poder voltar.
Quero tanto conhecer um índio!

Agora é tarde nas horas, e nunca se pode voltar atrás: estou entre o filme e o meio do mar. A cabeça roda e roda e não pára em lugar algum.